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04 outubro 2013

Missão de Guerra - Primeira Parte - (Final)

Depardieu pôs-se a ler.

Primeiro Documento:


"Anotações do médico,
05 de setembro de 1568.

O corpo chegou esta manhã, tudo indica ser o filho bastardo da rainha-mãe. Havia o histórico que ele possuía costumes vampirescos, só podia entender tratar-se de um bruxo. A pessoa responsável por trazer o corpo do espécime observou que, apesar da perfuração profunda em seu abdômen, possivelmente provocada por golpe de espada, e ferimentos que consistem em lacerações graves por todo o corpo e queima de mais da metade de sua carne, ainda permanecia vivo. Porém parecia hibernar, sem precisar comer ou beber, algo completamente alheio a um ser-humano, nunca vi nada igual.
Disseram-me que ele tentou atacar o rei enquanto jazia em seu descanso, diretamente em seu aposento. Foi caçado sem trégua por sua guarda pessoal e morto por um dos seus homens de maior destaque.

‘Fui eu quem o matou’...

Tratamos de suas feridas, conforme ordens da rainha-mãe. Tenho esperança que, em uma semana, essa criatura já esteja em condições normais. Ao que parece, o homem que me entregou o corpo, o viu em ação e descreveu que tal ser é possuidor de uma doença rara: a ‘Zoantropia’. Ele acredita ser um animal, como todos os detentores de tal doença já registrados, porém este possui um diferencial, ele mantém a consciência humana. Vale ressaltar que sua força mostra-se notavelmente superior ao do ser-humano assim como a resistência, como é o caso do espécime aqui presente.



Anotações do médico,
07 de setembro de 1568.

O dia de ontem superou todas as expectativas. Sua febre baixou ao longo das horas e seus ferimentos, após receber o devido tratamento médico, cicatrizou em questão de um espaço de 24 horas. Ele demonstrou sinais satisfatórios de vida, porém não como o ‘milagre’ que esperava. Seu corpo estava bem, porém sua mente demonstrava total ignorância de onde se encontrava. Ele não se recorda de ser quem é, nem filho de quem é. Mas demonstrou, tragicamente, contra dois dos meus mais novos auxiliares, que ainda acreditava ser uma fera. Os atacou mordendo-os na altura do pescoço, e quebrou braços e costelas de ambos.
Ele manteve aquilo que já sabia: lutar, em particular; falar quatro idiomas; e outras. Mas não possui ideia de como adquiriu tais conhecimentos. Ele é quase uma tábula rasa, porém necessita ser mantido preso em cadeias. Os meus jovens auxiliares estão deveras doentes: febre alta e dores no corpo.

‘Ele foi muito difícil de matar’...

Anotações do médico,
21 de setembro de 1568

O espécime mantém perfeita saúde, sequer apresenta qualquer tipo de cicatriz. Não consigo explicar tal evento. Seu raciocínio humano é perfeito, porém frio, inteligente e cruel, não se reconhece um ser-humano neste ser, não recomendado a retornar para o povo francês. As recomendações, até segunda ordem advinda da Rainha-mãe, são para mantê-lo em cárcere. Meus dois jovens ajudantes morreram após dois dias de febre incessante e dores pelo corpo.

Anotações do médico,
30 de setembro de 1568

O espécime continua encarcerado e bem, mas não se alimenta. Após muita observação, percebo ser impossível descobrir a qual animal ele acredita ter se convertido, porém ainda continua sedento por sangue e extremamente forte. Notei que, mesmo após nove dias da morte de meus caros e jovens ajudantes, seus corpos não se decompuseram. Manifestei-me contra enterrá-los. Ao verificar seus dados vitais, percebeu-se alguns dados. Solicitei que os algemassem, por via das dúvidas.

Anotações do medico,
03 de outubro de 1568

Incrível, as duas vítimas do primeiro espécime despertaram há 24 horas e estão em plena atividade e bem. Diferente do primeiro espécime, eles sabem os seus nomes e quem são, guardando toda a memória que possuíam antes de seu ‘falecimento’. Demonstraram um acréscimo de força aos seus corpos e sede por sangue, porém pedem encarecidamente para que sejam libertos, estão comportados. Irei reportar todos esses acontecimentos à rainha. Notei que, à noite, ainda mais quando a lua está cheia, eles ficam mais ouriçados, porém nada comparado ao primeiro espécime.
Só posso supor que a doença foi passada através da saliva, pois o contato físico pareceu não transmitir a doença. Já observei todos os meus dados vitais e de meus ajudantes. As minhas ‘crianças’ parecem nervosas por não libertá-las do cativeiro que se encontram após o seu renascimento. Ordenei para mais homens, com mais armas, protejam os aposentos.

Anotações do médico,
10 de outubro de 1568

Recebi ordens do correspondente da rainha-mãe para que sejam enviados tais espécimes, juntamente com o seu filho bastardo, para as colônias portuguesas. Se possível, a maior delas. Demonstrei meu desconforto, porém o correspondente alega que tal medida contemplará vários objetivos. As minhas ‘crianças’ servirão de armas. Sou obrigado a descobrir um meio de controle de tais feras para efetuar dominação de uma nova terra no Novíssimo Mundo. Os dois rapazes estão deveras agressivos, porém se comportam em minha presença. Eles dizem entender que são considerados uma ameaça. O filho bastardo da rainha mantém-se em total silêncio, aceita animais vivos para que sirva de alimento e descarte as carcaças.


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Segundo Documento:



Diário de Bordo (apenas a parte relevante): Capitão Jean Luke D’Lion

Data: 15 de novembro de 1568


Estamos partindo para o novo mundo. A tripulação mostrou-se animada até a chegada dos espécimes, a nossa arma secreta. Eles realmente causam náuseas apenas de olhar. São criaturas que podem invadir pesadelos, os deixarei à ferros até o fim da viagem. Estamos com previsão de alcançar a costa marítima entorno de quarenta dias, seguindo discretamente. Estamos partindo em dois navios de guerra, fortemente armados.


Diário de Bordo (apenas a parte relevante): Capitão Jean Luke D’Lion.

Data: 30 de novembro de 1568


A viagem tem nos mostrado diversos percalços. O cheiro das carcaças deixadas por essas ‘armas’ mostra-se insuportável, estão atraindo doenças. Nosso objetivo é apenas levá-los até a colônia portuguesa, porém parece ser meio difícil, pois mal chegamos à metade da viagem e a tripulação está desejosa em jogá-los no mar e tomar a colônia com os próprios punhos. Essas ‘armas’ são deveras repugnantes. O mais velho é agressivo e frio, os outros dois são cordiais.


Diário de Bordo (apenas a parte relevante): Capitão Jean Luke D´Lion.

Data: 15 de dezembro de 1568


Ocorreu um incidente, um dos nossos tripulantes chegou perto demais de nossas ‘armas’ para retirar as carcaças e foi brutalmente agredido, seu sangue foi quase todo bebido. Há mordidas por todo o corpo. Alguns outros se feriram com esses monstros, tentando salvar o companheiro. O corpo do marujo morto será jogado no mar ao amanhecer. Os companheiros estão muito febris.


Diário de Bordo (apenas a parte relevante): Capitão Jean Luke D´Lion

Data: 22 de dezembro de 1568


Mais homens de minha confiança morreram. Justos aqueles que tentaram ajudar o infeliz marujo. Como estamos perto do Natal e do fim da viagem, levaremos os seus corpos para terra.


Diário de Bordo (apenas a parte relevante): Capitão Jean Luke D´Lion

Data: 30 de dezembro de 1568


Algo errado está acontecendo. Toda a minha tripulação está sumindo. Não encontramos rastros sequer. Os espécimes continuam em cativeiro. Estou redobrando a guarda do acampamento. Um dos meus imediatos chamou-me a atenção para os túmulos daqueles que enterramos nessas terras, foram revirados. Mas diferente do que podia parecer, parece que não foi escavado e sim como se algo saísse da cova. Começo a gelar o meu coração do que pode ter acontecido.


Diário de Bordo (apenas a parte relevante): Capitão Jean Luke D´Lion

Data: 05 de janeiro de 1569


Tudo está um caos! Os espécimes foram libertados por antigos tripulantes meus, antes dados como morto; outros, desaparecidos. Sei que não tenho como escapar. Se alguém encontrar essas anotações, quero que utilize de referência para poder lutar contra ‘eles’. Essas criaturas são seres terrivelmente mais ferozes, fortes e astutos que d’antes de sua ‘passagem’. A praga que eles propagam em seu sangue é transmitida por intermédio dos ferimentos, contaminando a vítima por completo, tornando um antigo aliado em um potencial inimigo.
Todos os meus companheiros morto desde que foi descoberta tal praga, foram queimados para evitar a propagação. Tenho preocupação quanto aos navios, eles foram tomados por esses monstros. Eles são perfeitamente inteligentes e capazes de tripular aquelas embarcações, como o faziam antes de morrer. São extremamente cruéis, violentam mulheres e crianças dos povoados nativos e fazendas próximas. Não possuem limites para a maldade. Sequer lembram a moral que possuíam antes de morreram. Crianças foram transformadas. Matei todos que pude encontrar. Quando se cansarem daqui, é certo que partirão para outras terras. É certo que voltarão para a França, de uma maneira ou de outra. Sei que uma nova armada será enviada para exterminar com essa praga.
Ouço a respiração dos predadores à porta, fui encontrado”...

“Eu sabia que ia me dar mal”.

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